22/06/2016

O Cavaleiro da Arvore que Ri - O Torneio de Harrenhal pelos olhos de um Cragnomano

No terceiro livro de Game Of Thrones, A Tormenta de Espadas, os irmãos Reed contam a Bran Stark uma história do Cavaleiro da Arvore que Ri e sua participação no torneio de Harrenhal. Nesta história dá pra identificar vários personagens, como por exemplo, o pai do Bran, Eddard Stark, seguido dos irmãos, Benjen Stark e Lyanna Stark, os Targaryen, Lannisters e o Howland Reed.

Os fãs levantam várias teorias sobre a identidade do Cavaleiro da Arvore que Ri e as mais plausíveis são que o Cavaleiro pode ser a Lyanna ou o Ned Stark. E por ser descrito com estatura baixa, tem também uma chance de ser o Howland Reed.

PS: Inclusive foi neste torneio que Ned e Rowland ficaram amigos. Na Torre da Alegria Ned fala que só sobreviveu por causa dele.

A seguir, confira a parte do livro que conta esta história:

O Cavaleiro da árvore que Ri por Amoka

- Sabem
histórias? - perguntou de repente aos Reed.
Meera soltou uma gargalhada.
- Ah, algumas.
- Algumas - admitiu o irmão.
- Hodor - disse Hodor, cantarolando.
- Podiam contar uma - disse Bran, - Enquanto caminhamos. O Hodor gosta de histórias sobrecavaleiros. Eu também gosto.
- Não há cavaleiros no Gargalo - disse Jojen.
- Por cima da água - corrigiu a irmã. - Mas os pântanos estão cheios de cavaleiros mortos,
- Isso é verdade - disse Jojen. - Andalos e homens de ferro, Frey e outros tolos, todos os
orgulhosos guerreiros que tentaram conquistar a Água Cinzenta. Nem um conseguiu encontrá-la.
Entram no Gargalo mas não conseguem sair. E mais cedo ou mais tarde tropeçam nos pântanos,
afundam-se sob o peso de todo aquele aço e afogam-se lá, em suas armaduras.
A imagem de cavaleiros afogados debaixo d agua fez Bran arrepiar-se. Mas não levantou
objeções; gostava dos arrepios.
- Houve um cavaleiro - disse Meera - no ano da Falsa Primavera. Chamavam-no de Cavaleiro
da Árvore que Ri. Esse pode ter sido um cranogmano.
- Ou não. - O rosto de Jojen estava salpicado de sombras verdes. - Tenho certeza de que o
Príncipe Bran já ouviu essa história uma centena de vezes.
- Não - disse Bran. - Não ouvi. E, se tivesse ouvido, não me importaria. Às vezes, a Velha Ama
voltava a contar as mesmas histórias, mas nós nunca nos importávamos, desde que fossem boas,
Ela costumava dizer que as velhas histórias são como velhos amigos. Temos de visitá-las de vez
em quando.
- Isso é verdade. - Meera caminhava com o escudo nas costas, afastando do caminho um ramo
ou outro com a lança para rãs. Bem quando Bran já começava a achar que ela não ia contar a
história, começou: - Num tempo muito distante houve um moço engraçado que vivia no Gargalo.
Era pequeno como todos os cranogmanos, mas também era bravo, esperto e forte. Cresceu
caçando, pescando e subindo nas árvores e aprendeu toda a magia do meu povo.
Bran tinha quase certeza de que nunca ouvira aquela história.
- Ele tinha os sonhos verdes, como o Jojen?
- Não - disse Meera mas era capaz de respirar lama e correr sobre folhas e transformar a terra
em água e a água em terra só com uma palavra murmurada. Sabia falar com as árvores, tecer
palavras e fazer castelos aparecerem e desaparecerem.
- Gostaria de saber fazer isso - disse Bran em tom de lamento. - Quando é que ele conhece o
cavaleiro da árvore?
Meera fez-lhe uma careta.
- Mais depressa, se um certo príncipe ficasse calado.
- Estava só perguntando.
- O rapaz conhecia as magias dos pântanos - prosseguiu ela -, mas queria mais. É que o nosso
povo raramente viaja para longe de casa. Somos gente pequena, e nossos costumes parecem
estranhos para certas pessoas, de modo que as pessoas grandes nem sempre nos tratam bem.
Mas esse rapaz era mais ousado do que a maioria, e um dia, depois de chegar à idade adulta,
decidiu que iria deixar os pântanos para visitar a Ilha das Caras.
- Ninguém visita a Ilha das Caras - questionou Bran. - E onde vivem os homens verdes.
- Eram os homens verdes que ele queria encontrar. Portanto vestiu uma camisa com escamas
de bronze cosidas a ela, como a minha, pegou um escudo de couro e uma lança de três dentes,
como os meus, e desceu o Ramo Verde remando num pequeno barco de casco de couro.
Bran fechou os olhos para tentar ver o homem em seu pequeno barco de casco de couro. Na
sua cabeça, o cranogmano parecia-se com Jojen, só que mais velho e forte e vestido como Meera.
- Passou por baixo das Gêmeas de noite, para que os Frey não o atacassem, e quando chegou
ao Tridente, saiu do rio, pôs o barco na cabeça e começou a caminhar. Demorou muitos dias, mas
por fim chegou ao Olho de Deus, atirou o barco no lago e remou até a Ilha das Caras.
- E encontrou os homens verdes?
- Sim - disse Meera -, mas essa é outra história, e não cabe a mim contá-la. O meu príncipe
pediu cavaleiros.
- Homens verdes também são bons.
- São mesmo - concordou ela, mas nada mais disse sobre eles. - O cranogmano ficou na ilha
durante todo esse inverno, mas quando a primavera desabrochou, ouviu o grande mundo a
chamá-lo e soube que era hora de partir. Seu barco de couro estava exatamente no local onde o
deixara, por isso fez suas despedidas e remou para terra firme. Remou e remou, e por fim viu as
distantes torres de um castelo erguendo-se junto ao lago. As torres subiam cada vez mais, à
medida que ia se aproximando da margem, até que ele percebeu que aquele devia ser o maior
castelo do mundo inteiro.
- Harrenhal! - compreendeu Bran de imediato, - Era Harrenhal!
Meera sorriu.
- Seria? À sombra das suas muralhas viu tendas de muitas cores, brilhantes estandartes
balançando ao vento, e cavaleiros vestidos de cota de malha ou de placas de aço e montados em
cavalos couraçados. Sentiu o cheiro de carne assando e ouviu o som de risos e o clangor das
trombetas dos arautos. Um grande torneio estava prestes a começar, e tinham vindo campeões de
todo o território para conquistá-lo. O próprio rei encontrava-se presente, com seu filho, o
príncipe-dragão. As Espadas Brancas tinham vindo, para receber um novo irmão em suas fileiras.
O senhor da tempestade andava por lá, bem como o senhor da rosa. O grande leão do rochedo
tinha brigado com o rei e acabou se mantendo afastado, mas muitos de seus vassalos e cavaleiros
compareceram mesmo assim. O cranogmano nunca vira tamanha pompa, e sabia que talvez
nunca mais voltaria a ver coisa igual. Parte de si nada mais desejava do que participar daquilo.
Bran conhecia bastante bem essa sensação. Quando era pequeno, só sonhava em ser um
cavaleiro. Mas isso fora antes de cair e perder as pernas,
- A filha do grande castelo reinava como rainha do amor e da beleza quando o torneio começou.
Cinco campeões tinham jurado defender a sua coroa; seus quatro irmãos de Harrenhal e seu tio
famoso, um cavaleiro branco da Guarda Real.
- Era uma donzela bela?
- Era - disse Meera, saltando sobre uma pedra -, mas havia outras ainda mais belas. Uma era a
esposa do príncipe-dragão, que havia trazido uma dúzia de damas de companhia para servi-la.
Todos os cavaleiros lhe suplicavam favores para atar em volta de suas lanças.
- Isso não vai ser uma daquelas histórias de amor, não é? - perguntou Bran, desconfiado. - O
Hodor não gosta lá muito dessas.
- Hodor - disse Hodor, concordando.
- Ele gosta das histórias em que os cavaleiros lutam com monstros.
- As vezes os monstros são os cavaleiros, Bran. O pequeno cranogmano caminhava pelo
campo, desfrutando do dia quente de primavera e sem fazer mal a ninguém, quando foi atacado
por três escudeiros, Nenhum deles tinha mais de quinze anos, mesmo assim eram maiores do que
ele, todos os três. Do modo como viam as coisas, aquele mundo era deles, e o cranogmano não
tinha o direito de estar lá. Roubaram sua lança e atiraram-no ao chão, e o chamaram de papa-rãs,
- Eram Walder? - parecia algo que o Pequeno Walder Frey poderia ter feito.
- Nenhum deles disse o nome, mas ele guardou bem seus rostos na memória, para que
pudesse se vingar mais tarde. Derrubaram-no toda vez que tentou se levantar, e chutaram-no
quando se enrolou sobre si mesmo no chão. Mas então ouviram um rugido. "Esse que chutam é
vassalo de meu pai", uivou a loba.
- Uma loba com quatro patas, ou com duas?
- Duas - disse Meera. - A loba meteu-se no meio dos escudeiros com uma espada de torneio,
fazendo-os debandar. O cranogmano estava machucado e ensangüentado, por isso ela levou-o
para a sua toca, para limpar as feridas e cobri-las com linho. Aí, ele conheceu os irmãos de matilha
dela: o lobo selvagem que os liderava, o lobo calado ao seu lado e o lobinho que era o mais novo
dos quatro.
"Nessa noite, haveria um banquete em Harrenhal, para anunciar a abertura do torneio, e a loba
insistiu em que o rapaz comparecesse. Ele era de elevado nascimento, com tanto direito a um
lugar no banco como qualquer outro homem. Não era fácil contrariar aquela donzela-lobo, e assim
ele deixou que o jovem lobinho lhe arranjasse um traje adequado para um banquete real e
dirigiu-se ao grande castelo.
"Comeu e bebeu sob o teto de Harren, com os lobos e também com muitas das espadas a eles
juramentadas, homens das terras acidentadas, e também alces, ursos e tritões. O príncipe-dragão
cantou uma canção tão triste que fez a donzela-lobo soluçar, mas quando o seu irmão lobinho
caçoou dela por chorar, ela derramou vinho na cabeça dele. Um irmão negro interveio, pedindo aos
cavaleiros para se juntarem à Patrulha da Noite. O senhor da tempestade derrotou o cavaleiro dos
crânios e beijos numa batalha de copos de vinho. O cranogmano viu uma donzela com sorridentes
olhos púrpuras dançando com uma espada branca, uma serpente vermelha e o senhor dos grifos,
e por fim com o lobo silencioso... mas só depois que o lobo selvagem falou com ela em nome do
irmão, que era tímido demais para sair de seu banco.
"No meio de toda aquela alegria, o pequeno cranogmano vislumbrou os três escudeiros que o
tinham atacado. Um deles servia um cavaleiro forquilha; outro, um porco- -espinho, enquanto o
terceiro assistia um cavaleiro com duas torres em seu sobretudo, um símbolo que todos os
cranogmanos conhecem bem."
- Os Frey - disse Bran. - Os Frey da Travessia.
- Então, assim como agora - concordou ela. - A donzela-lobo também os viu e mostrou-os aos
irmãos. "Podia arranjar-lhe um cavalo e uma armadura que talvez servisse", ofereceu o lobinho, O
pequeno cranogmano agradeceu, mas não respondeu. Tinha o coração dividido. Os cranogmanos
são menores do que a maioria dos homens, mas igualmente orgulhosos. O rapaz não era
cavaleiro, nenhum dos seus era. Sentamo-nos mais freqüentemente num barco do que num
cavalo, e nossas mãos são feitas para remos, não para lanças. Por mais que desejasse obter sua
vingança, temia não fazer mais do que papel de bobo, envergonhando seu povo. O lobo silencioso
ofereceu ao pequeno cranogmano um lugar em sua tenda naquela noite, mas este, antes de
dormir, ajoelhou-se na margem do lago, olhando por sobre a água para onde a Ilha das Caras
deveria estar, e proferiu uma prece aos deuses antigos do Norte e do Gargalo...
- Seu pai nunca lhe contou essa história? - perguntou Jojen.
- Era a Velha Ama quem contava histórias. Meera, continue, não pode parar aí.
Hodor devia sentir o mesmo.
- Hodor - disse, e depois: - Hodor hodor hodor hodor.
- Bem - disse Meera -, se quer ouvir o resto...
- Sim. Conte.
- Estavam planejados cinco dias de justas - disse ela. - Também haveria uma grande luta corpo
a corpo entre sete equipes, e torneios de tiro ao alvo e arremesso de machados, uma corrida de
cavalos e um torneio de cantores...
- Isso tudo não interessa. - Bran contorceu-se impacientemente no cesto que o prendia às
costas de Hodor, - Conte o que aconteceu nas justas.
- As ordens de meu príncipe. A filha do castelo era a rainha do amor e da beleza, com quatro
irmãos e um tio para defendê-la, mas todos os quatro filhos de Harrenhal foram derrotados no
primeiro dia. Os vencedores tiveram breves reinados como campeões, até serem, por sua vez,
derrotados. Aconteceu que, no fim do primeiro dia, o cavaleiro do porco-espinho conquistou um
lugar entre os campeões, e na manhã do segundo dia o cavaleiro da forquilha e o cavaleiro das
duas torres também saíram vitoriosos. Mas, ao fim da tarde desse segundo dia, quando as
sombras se tornavam longas, um misterioso cavaleiro surgiu na liça.
Bran assentiu com a cabeça, com ar sabedor. Cavaleiros misteriosos apareciam freqüentemente
nos torneios, com elmos que escondiam seus rostos, e escudos ora vazios ora
ostentando um símbolo estranho qualquer. Às vezes eram campeões famosos sob disfarce. O
Cavaleiro do Dragão certa vez ganhara um torneio como o Cavaleiro das Lágrimas, para poder
nomear a irmã rainha do amor e da beleza no lugar da amante do rei. E Barristan, o Ousado, vestiu
por duas vezes uma armadura de cavaleiro misterioso, a primeira quando tinha apenas dez anos,
- Aposto que era o pequeno cranogmano.
- Ninguém soube - disse Meera -, mas o cavaleiro misterioso era de baixa estatura e usava uma
armadura que mal lhe servia, feita de partes avulsas. O símbolo que trazia no escudo era uma
árvore-coração dos velhos deuses, um represeiro branco com uma cara vermelha sorrindo.
- Talvez tenha vindo da Ilha das Caras - disse Bran. - Era verde? - Nas histórias da Velha Ama,
os guardiães tinham pele verde-escura e folhas no lugar dos cabelos. As vezes também tinham
chifres, mas Bran não via como o cavaleiro misterioso poderia ter usado um elmo se tivesse
chifres. - Aposto que foram os deuses antigos que o enviaram.
- Talvez tenham sido. O cavaleiro misterioso saudou o rei com a lança e dirigiu-se para o fim da
liça, onde os cinco campeões tinham seus pavilhões. Sabe quais foram os três que ele desafiou.
- O cavaleiro do porco-espinho, o cavaleiro da forquilha e o cavaleiro das torres gêmeas. - Bran
ouvira histórias suficientes para saber isso. - Era o pequeno cranogmano, bem que eu disse.
- Fosse quem fosse, os deuses antigos deram força ao seu braço, O cavaleiro do porco-espinho
foi o primeiro a cair, seguido pelo da forquilha e, por fim, o das duas torres foi derrubado. Nenhum
deles era apreciado, por isso os plebeus aplaudiram vigorosamente o Cavaleiro da Arvore que Ri,
nome pelo qual o novo campeão começou rapidamente a ser conhecido. Quando seus adversários
caídos procuraram resgatar cavalos e armaduras, o Cavaleiro da Arvore que Ri falou numa voz
trovejante através do elmo:"Ensinem honra aos seus escudeiros, isso será um resgate suficiente".
Depois de os cavaleiros derrotados terem punido severamente os escudeiros, seus cavalos e
armaduras foram restituídos. E, assim, as preces do pequeno cranogmano foram atendidas.,,
pelos homens verdes, pelos deuses antigos ou pelos filhos da floresta, quem saberá?
Era uma boa história, decidiu Bran depois de pensar nela por um momento ou dois.
- O que aconteceu depois? O Cavaleiro da Arvore que Ri ganhou o torneio e se casou com uma
princesa?
- Não - disse Meera, - Nessa noite, no grande castelo, tanto o senhor da tempestade como o
cavaleiro dos crânios e dos beijos juraram que iriam desmascará-lo, e o próprio rei exortou os
homens a desafiá-lo, declarando que o rosto por trás do elmo não era seu amigo. Mas, na manhã
seguinte, quando os arautos sopraram suas trombetas e o rei ocupou seu lugar, só dois campeões
apareceram. O Cavaleiro da Arvore que Ri tinha desaparecido. O rei ficou furioso, e até mandou o
filho, o príncipe-dragão, procurar o homem, mas tudo que encontraram foi seu escudo pintado,
abandonado, pendendo de uma árvore. No fim, foi o príncipe-dragão que ganhou o torneio.
- Oh. - Bran refletiu um pouco acerca da história. - Foi uma boa história, Mas, em vez dos
escudeiros, os três cavaleiros maus deviam ter machucado o homem. Então, o pequeno
cranogmano poderia ter matado os três. A parte dos resgates é estúpida. E o cavaleiro misterioso
devia ter ganhado o torneio, derrotando todos os que o desafiassem, e nomeado a donzela-lobo
rainha do amor e da beleza.
- Ela foi nomeada - disse Meera mas essa é uma história mais triste.
- Tem certeza de que nunca ouviu essa história antes, Bran? - perguntou Jojen. - O senhor seu
pai nunca a contou para você?
Bran sacudiu a cabeça. O dia já estava acabando a essa altura, e longas sombras rastejavam
pelos flancos das montanhas, enviando dedos negros por entre os pinheiros.
Se o pequeno cranogmano pôde visitar a Ilha das Caras, eu talvez também possa. Todas as
histórias concordavam em que os homens verdes possuíam estranhos poderes mágicos. Talvez
pudessem ajudá-lo a voltar a andar, ou até a transformá-lo num cavaleiro. Transformaram o
pequeno cranogmano num cavaleiro, mesmo que só por um dia, pensou. Um dia seria suficiente.
Rhaegar coroa Lyanna rainha do amor e da beleza por M.Luisa Giliberti©

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